Hitler era um homem
Não, ainda não assisti ao filme A Queda - Hitler e o Fim do III Reich. Mas já li bastante sobre a película. E, ontem, segui o sereno e esclarecedor comentário do Alexandre Borges aqui na Capital sobre o dito. Ou seja: ainda não vi o filme, mas já fiz o filme do filme.
Mas o meu ponto nada tem a ver com cinema (como tinha o ponto do Alexandre, certeiramente crítico em relação aos juízos morais sobre a fita). Tem a ver com os comentários que têm circulado por estes dias sobre Adolf Hitler.
Ouço e leio que Hitler não era um homem. Que não era um ser humano. Ouço e leio que Hitler era um monstro. Ora, permitam-me discordar (um verbo especialmente apetecível para as segundas-feiras). Hitler era humano. Demasiado humano até. Porque só o humano pode conter tanta monstruosidade dentro de si.
Prefiro ver as coisas desta forma: Hitler não era um monstro. Era um homem monstruoso. O que é muito diferente. Porque, ao considerá-lo um ser humano monstruoso, não estamos a afastá-lo. Não estamos a chutá-lo para «outro mundo». Não estamos a dizer: «A maldade de Hitler não tem nada a ver com connosco». O facto é que tem. E muito. Quando Freitas comparou Bush a Hitler estava a comparar dois seres humanos.
A verdade é que Hitler era tão humano que, como mostra o filme e lembra o Alexandre, tem alguns instantes de luminosidade na sua biografia. Ou seja: é, como todos nós, um ser complexo. Com um extensíssimo território obscuro e maligno espalhado pelo espírito.
Para grande parte da opinião pública portuguesa (ah, como detesto esta expressão), o monstro do momento chama-se Carlos Silvino. E, aos olhos dos que vão estrebuchar para a frente do tribunal, Bibi é uma «besta». Um «animal». Esquecem-se de um pormenor: que a condição de réu está reservada aos homens. E que eles próprios, a julgar pela epilépsia de ódio e crueldade, não são flor que se cheire.
Mas o meu ponto nada tem a ver com cinema (como tinha o ponto do Alexandre, certeiramente crítico em relação aos juízos morais sobre a fita). Tem a ver com os comentários que têm circulado por estes dias sobre Adolf Hitler.
Ouço e leio que Hitler não era um homem. Que não era um ser humano. Ouço e leio que Hitler era um monstro. Ora, permitam-me discordar (um verbo especialmente apetecível para as segundas-feiras). Hitler era humano. Demasiado humano até. Porque só o humano pode conter tanta monstruosidade dentro de si.
Prefiro ver as coisas desta forma: Hitler não era um monstro. Era um homem monstruoso. O que é muito diferente. Porque, ao considerá-lo um ser humano monstruoso, não estamos a afastá-lo. Não estamos a chutá-lo para «outro mundo». Não estamos a dizer: «A maldade de Hitler não tem nada a ver com connosco». O facto é que tem. E muito. Quando Freitas comparou Bush a Hitler estava a comparar dois seres humanos.
A verdade é que Hitler era tão humano que, como mostra o filme e lembra o Alexandre, tem alguns instantes de luminosidade na sua biografia. Ou seja: é, como todos nós, um ser complexo. Com um extensíssimo território obscuro e maligno espalhado pelo espírito.
Para grande parte da opinião pública portuguesa (ah, como detesto esta expressão), o monstro do momento chama-se Carlos Silvino. E, aos olhos dos que vão estrebuchar para a frente do tribunal, Bibi é uma «besta». Um «animal». Esquecem-se de um pormenor: que a condição de réu está reservada aos homens. E que eles próprios, a julgar pela epilépsia de ódio e crueldade, não são flor que se cheire.