Thursday, May 05, 2005

A Margarida é fixe

Desde o momento da publicação da entrevista que fiz à Margarida Rebelo Pinto (o último sábado; vós, os meus dois dedicados leitores, sabeis disso) que não tenho tido descanso. Primeiro foi uma amiga que me desancou ao telefone. Depois foi um amigo que me desancou antes de um jogo de bola. Por fim, foi a vizinhança inteira que me desancou no café - ainda não tinha pedido a sandes mista e o galão com adoçante. Sim, a Brigada Anti-Rebelo Pinto entrou em acção.
Meus queridos, a Margarida é fixe. (Se algum jornal me quiser citar, que leve esta frase). Não se irritem tanto com ela. Vá, dêem quatro voltas ao quarteirão. Se não bastar, leiam três livros do Ramos Rosa e a prosa do Destak. Se, mesmo assim, continuarem irritadiços, imaginem que foram convidados para a tertúlia do SIC-10 Horas e que podem provocar estragos à vontade.
Não, não percebo de onde vem essa urticária toda em relação à Margarida Rebelo Pinto. A sério que não percebo. Eu cá continuo na minha: só num país culturalmente inseguro, o fenómeno Rebelo Pinto pode ser incómodo. O Cavaco é que tinha razão: deixem-na trabalhar. Está claro dentro da minha melancólica cabecinha: quanto mais os Ratzingers do pensamento nacional lançarem o seu ar de desprezo sobre ela, mais eu vou defendê-la. Ai vou, vou.
Porque ela é o que é: uma mulher que resolveu escrever livros - e que ganha bastante dinheiro com isso. Mais importante: uma escritora que tem feito por melhorar a qualidade da sua escrita e que vai editar um livro atravessado de uma raiva sarcástica, a fazer lembrar os melhores momentos da espanhola Lucía Etxebarria. Pergunto: algum problema com isso?

(texto publicado no dia 5 de Maio)