Saturday, May 07, 2005

O trânsito em Akureyri

Os efeitos da globalização podem tornar-se patéticos. Por estes dias, enquanto passeava de manhã pelas ruelas e becos da cidade, encontrei pares de pais a trocarem ideias sobre os mais obscuros pormenores das eleições em Inglaterra - enquanto os filhos puxavam pelas suas camisas, ansiosos por poderem chegar a tempo às aulas. Havia professores a querer regressar ao castigo das reguadas. Nos progenitores, naturalmente.
Até a minha vizinha de baixo, que nem a Mulher Moderna lê, passou a comprar a Economist para ter opinião sobre todas as alíneas dos programas de Blair, Howard e Kennedy. Corrijo: até o canídeo da senhora passou noites e noites a fazer minuciosas comparações entre as últimas sondagens. Mais: até as pulgas do fedorento participaram hoje de manhã no fórum pós-eleitoral da BBC.
Isto está a atingir dimensões fabulosas. Daqui a nada, o caso tornar-se-á psiquiátrico. O que até pode animar o país, nesta era de socratismo sonâmbulo. Antecipemos os acontecimentos. As eleições para a junta da zona oeste de uma cidade obscura do Burundi serão acompanhadas nas tascas de Alfama como se fossem marchas de Lisboa. O problema da canalização numa casa em Bogotá será tema de conversa nos jantares de família em Alfornelos. Em vez do trânsito nas cidades portuguesas, teremos, logo pela matina, na Antena 1 e na TSF, o trânsito de Bordéus, Bombaim e Akureyri.
Eu, se me dão licença, deixo aqui registado que tenho um problema de térmitas para resolver. E, por incrível que pareça, não há nenhum jornal do mundo que faça manchete com isso. Tá mal. Tá muito mal.