Friday, May 13, 2005

As regras

Não sei se Isaltino Morais e Valentim Loureiro vão ser ou não expulsos do PSD, mas agrada-me a ideia de viver numa sociedade em que as regras básicas das organizações funcionam. Em que não vale tudo. Em que fazer parte de um clube significa respeitar os seus princípios essenciais. Em que os meninos, quando se portam mal, são obrigados a ir lá para fora. Mais: são obrigados a ir lá para fora assistir ao programa do Goucha.
Hoje em dia, fica bem ser contra as regras. Questioná-las a cada instante. Os adultos são adolescentes e os adolescentes crianças. Ou por outra: são raríssimos aqueles que assumem as suas responsabilidades. Que dizem: «Não me portei bem. Assumo o que fiz e acho que devo pagar por isso. Sim, aceito que me mandem para a Nova Democracia durante cinco anos». Agora, um tipo porta-se mal e a primeira coisa que faz é telefonar para uma televisão e dizer que há gente desumana que o quer expulsar de casa. Estamos nisto.
Há uma evidentíssima pressão nos jornais, nas rádios, nas televisões, para que as regras não se cumpram. Muitas e muitas vezes, quem manda cumprir uma regra (a do dever de lealdade a um partido, por exemplo) é logo visto nos media como um «fascistóide». Como alguém que não sabe o «verdadeiro significado do 25 de Abril». Veja-se o caso de Freitas. Freitas do Amaral foi suspenso do Partido Popular Europeu ao assumir funções num Governo socialista e a maior parte dos comentadores achou que a suspensão era «absolutamente inaceitável». O que, se pensarmos um pouco, é uma opinião de quem perdeu o Norte e o sentido da decência.
Invoca-se gratuitamente a democracia para criticar os «fascistóides» quando a verdade é que uma democracia não funciona sem regras. Mas ainda estamos demasiado complexados para perceber a evidência.
(publicado no dia 12 de Maio)