Lusitana chinatown
A história da inspecção às lojas chinesas fez-me lembrar uma longa conversa promovida por este jornal entre Pacheco Pereira e Eduardo Lourenço. Recordo-me de Pacheco ter comentado, entre outras coisas, que muitos comerciantes portugueses ainda não perceberam o tempo em que vivem. Lamentam-se demasiado e pouco fazem para se modernizarem e se tornarem competitivos.
Já lá estivemos. Agora são eles que cá estão. Sim, Portugal já foi conhecido pelos seus périplos ao Oriente. Agora é conhecido pelo país que quer expulsar - ou, pelo menos, amedrontar - os orientais que lhe vieram prejudicar o negócio. Abram o ouvido: há um cochicho invejoso e mesquinho a rastejar pelas ruelas, tascas e lojas de conveniência: «Olha que os gajos trabalham de mais e têm bugigangas baratas. É preciso ter cuidado com os chinos».
Sabe o que é que dá vontade, dona Genoveva? (Desculpem. É que a senhora apareceu agora aqui em casa para fazer a análise da jogatana de ontem, com o seu poético vocabulário à Rui Santos). Dá vontade de imaginar uma inspecção aos comerciantes portugueses. Uma inspecção daquelas que dão para assustar até um Tarzan Taborda. Uma investida que revele aquilo que já adivinhamos: que seria preciso ter a casa bem limpinha para levantar ondas aos outros.
Mais: dá vontade de imaginar Portugal transformado numa imensa Chinatown. Do mais pirososo – mas eficaz - que pode existir. E com os pequenos comerciantes lusos a serem obrigados a modernizarem as suas lojecas - e a melhorarem o serviço, a qualidade e o preço dos seus produtos. Como já deviam ter feito, aliás.
(texto publicado no dia 19 de Maio de 2005)
Já lá estivemos. Agora são eles que cá estão. Sim, Portugal já foi conhecido pelos seus périplos ao Oriente. Agora é conhecido pelo país que quer expulsar - ou, pelo menos, amedrontar - os orientais que lhe vieram prejudicar o negócio. Abram o ouvido: há um cochicho invejoso e mesquinho a rastejar pelas ruelas, tascas e lojas de conveniência: «Olha que os gajos trabalham de mais e têm bugigangas baratas. É preciso ter cuidado com os chinos».
Sabe o que é que dá vontade, dona Genoveva? (Desculpem. É que a senhora apareceu agora aqui em casa para fazer a análise da jogatana de ontem, com o seu poético vocabulário à Rui Santos). Dá vontade de imaginar uma inspecção aos comerciantes portugueses. Uma inspecção daquelas que dão para assustar até um Tarzan Taborda. Uma investida que revele aquilo que já adivinhamos: que seria preciso ter a casa bem limpinha para levantar ondas aos outros.
Mais: dá vontade de imaginar Portugal transformado numa imensa Chinatown. Do mais pirososo – mas eficaz - que pode existir. E com os pequenos comerciantes lusos a serem obrigados a modernizarem as suas lojecas - e a melhorarem o serviço, a qualidade e o preço dos seus produtos. Como já deviam ter feito, aliás.
(texto publicado no dia 19 de Maio de 2005)