Friday, May 13, 2005

O medo de engordar

Li já não sei onde que está prestes a ir para o ar um reality-show com gordos. Diz que o objectivo do concurso é fazer uma dietazinha em frente às câmaras. É isso: não percebo por que é que ainda não chegou o convite. Para apresentador, claro. Ou então para bailarina figurante.
Mas esta crónica não é sobre televisão. É sobre a vida para além dos estúdios. (Há uma, apesar de tudo). É sobre cafés, os cafés portugueses, e sobre aqueles que considero dos maiores responsáveis pela obesidade nacional: os empregados de café.
Os cronistas andam a fugir deste tema como os realizadores lusos fogem do Dubai. Como os políticos fogem do Sá Fernandes. Como o Telmo Correia foge da calamidade que está a atravessar há uns tempos. Os colunistas preferem escrever sobre o Sócrates, sobre o défice, sobre o Nobre Guedes, sobre o Benfica-Sporting. Enfim, sobre matérias que não interessam nem ao César das Neves.
Já altura de alguém pegar neste magno assunto. Chegou o momento de confrontar os empregados de café com a pergunta: por que é que, quando nós pedimos um café com adoçante, o café vem sempre acompanhado de açúcar? Pois é, disso ninguém fala. E este é um dos mais perfurantes problemas da Nação. Qual Medo de Existir, qual quê. Por estes dias, José Gil já deveria estar a escrever o «Portugal, Hoje – o Medo de Engordar». Um volume dedicado aos empregados de café que se esquecem sempre de trazer o adoçante para a mesa. Porque, se porventura, um dias destes, eles se lembrarem de trazer o pacotinho certo, poderão alterar decisivamente o futuro do país. É só quererem. Garanto.
(publicado no dia 13 de Maio)