Tuesday, May 17, 2005

Nobre Guedes e o Benfica

Deixem-me fazer uma pergunta para começar: o que é que une os ministros do último Governo que assinaram um polémico despacho e o Sport Lisboa e Benfica? Ambos resolveram tratar das coisas à última da hora. Ambos honraram a tradição do «deixa para amanhã o que podes fazer hoje». Ou seja: ambos são genuinamente tugas. Mereceriam, pois, fazer parte de uma novíssima versão da Arte de ser Português, de Pascoaes.
«Esses nunca me enganaram. O problema é o outro, o Zé Sócrates, que até parecia estrangeiro», comentou comigo, à entrada do extra, a dona Maria Júlia. Está bem visto. Dona Maria Júlia rules. Dona Maria Júlia para comentadora da SIC-Notícias, já. Ao contrário do que as aparências e o estilo sofisticado poderiam sugerir, o primeiro-ministro José Sócrates também é bastante lusitano nisso. Aquele ar estrangeirado, de quem anda a comprar instalações do Cabrita Reis em feiras de arte na Alemanha, afinal, é só para enganar. Só para português ver, melhor dizendo.
Comecei por dar o benefício da dúvida, mas agora treino um novo raciocínio. A julgar pela fraca produtividade do Executivo socialista, é de crer que José Sócrates está a guardar-se para os últimos dias de governação. Aliás, só pode ser isso: tal como o Benfica, o primeiro-ministro quer ganhar o campeonato na última jornada. Durante quase quatro anos vai andar a lançar ideias-chave - a provar que o diabólico marketing não era um exclusivo do Governo de Santana - e, no final, fará uma data de reformas estruturais. Com ou sem ajuda dos árbitros.

(texto publicado no dia 16 de Maio)