Sócrates é amigo
Logo a seguir à queda de Santana Lopes, O Indesejado, comentei com a dona Isaura e o seu neto Márcio - e depois registei a ideia na croniqueta do dia - que o populismo não tinha terminado. Que, mais cedo ou mais tarde, o novo primeiro-ministro iria revelar a careca da demagogia. Era, convenhamos, uma jogada bastante arriscada. O personagem ainda não tinha revelado uma pontinha de humanidade que fosse.
Sócrates é mais humano do que se imaginava - e é inegavelmente amigo do quarto andar sem elevador (obrigados). Mais: Sócrates é um político. Um político clássico. Ou melhor - típico. Não é o ser robótico que aparentava ser. Também faz promessas para agradar ao povo que o vai eleger. Também diz que não vai aumentar os impostos e depois, no primeiro momento de aperto, quer fazer esquecer o que afirmou. Sócrates, afinal, tem alguma coisa de Santana.
Acontece com qualquer pop star – e o nosso actual primeiro é, inegavelmente, uma. Tal como Pedro, José já começa a desiludir os seus fãs – com todo o exagero que as relações entre fãs e ídolos comportam. E aqueles que nele depositaram alguma fezada começam a baixar a cabeça. O pai de um amigo meu chamou o filho a um canto para um desabafo. Contou-lhe que tinha votado em José Sócrates na convicção de que ele não iria subir os impostos. E que, por isso, se sente neste momento enganado. Defraudado. Zangado. O meu amigo não lhe perguntou, mas é bem possível que o seu sentido de voto, hoje, não fosse o mesmo. Sim, nestes dias em que o socratismo começa a revelar algumas das suas sombras, os papéis invertem-se nas casas dos portugueses. São os filhos que não sabem o que é que hão-de dizer aos pais.
(texto publicado no dia 26 de Maio)
Sócrates é mais humano do que se imaginava - e é inegavelmente amigo do quarto andar sem elevador (obrigados). Mais: Sócrates é um político. Um político clássico. Ou melhor - típico. Não é o ser robótico que aparentava ser. Também faz promessas para agradar ao povo que o vai eleger. Também diz que não vai aumentar os impostos e depois, no primeiro momento de aperto, quer fazer esquecer o que afirmou. Sócrates, afinal, tem alguma coisa de Santana.
Acontece com qualquer pop star – e o nosso actual primeiro é, inegavelmente, uma. Tal como Pedro, José já começa a desiludir os seus fãs – com todo o exagero que as relações entre fãs e ídolos comportam. E aqueles que nele depositaram alguma fezada começam a baixar a cabeça. O pai de um amigo meu chamou o filho a um canto para um desabafo. Contou-lhe que tinha votado em José Sócrates na convicção de que ele não iria subir os impostos. E que, por isso, se sente neste momento enganado. Defraudado. Zangado. O meu amigo não lhe perguntou, mas é bem possível que o seu sentido de voto, hoje, não fosse o mesmo. Sim, nestes dias em que o socratismo começa a revelar algumas das suas sombras, os papéis invertem-se nas casas dos portugueses. São os filhos que não sabem o que é que hão-de dizer aos pais.
(texto publicado no dia 26 de Maio)