Orgulhosamente sós
Confesso: continuo impressionado com as manifestações de alegre histerismo pela vitória do «não» em França. As imagens circularam nas televisões de todo o mundo: franceses abraçados uns aos outros, com copázios (e, quem sabe, charros do Dubai) na mão, a gritar a sua felicidade por terem empatado a vida à União. Como se esse fosse o desígnio maior das suas vidas.
Impressiona-me também a circunstância evidente de uma boa parte daquelas pessoas não fazer ideia daquilo que realmente está a festejar. No máximo, tem uma vaga noção (cheia de clichés que desaguam na abstracta expressão “Europa social”). Mas elas festejam. Saltam. Gritam. Fazem sapateado e strip ao lado das respectivas famílias. Em nome de uma vitória que as torna orgulhosamente sós na caminhada europeia.
Mas, ao menos, elas fazem a festa. Pois, a verdade é que, antes de me lançar a mais um melancólico zapping, faço a perguntinha preocupada: será que, quando houver referendo em Portugal, as pessoas também irão para as ruas apitar? Por enquanto, a resposta é: duvido. Estamos muito mais longe de qualquer ideia de União Europeia do que os franceses. E em matéria de ignorância sobre os mecanismos e a substância do Tratado Constitucional estaremos (com certeza) em pior situação do que eles. Basta assistir aos depoimentos de rua. «A Europa» não nos causa qualquer tipo de emoção. E, em consequência disso, de opinião.
Fica a proposta: que, no dia do referendo, se jogue uma futebolada épica entre os ilustres adeptos do sim e do não. Isso mesmo: pode ser que, dessa forma, haja festança até às tantas no Marquês.
(publicado no dia 31 de Maio de 2005)
Impressiona-me também a circunstância evidente de uma boa parte daquelas pessoas não fazer ideia daquilo que realmente está a festejar. No máximo, tem uma vaga noção (cheia de clichés que desaguam na abstracta expressão “Europa social”). Mas elas festejam. Saltam. Gritam. Fazem sapateado e strip ao lado das respectivas famílias. Em nome de uma vitória que as torna orgulhosamente sós na caminhada europeia.
Mas, ao menos, elas fazem a festa. Pois, a verdade é que, antes de me lançar a mais um melancólico zapping, faço a perguntinha preocupada: será que, quando houver referendo em Portugal, as pessoas também irão para as ruas apitar? Por enquanto, a resposta é: duvido. Estamos muito mais longe de qualquer ideia de União Europeia do que os franceses. E em matéria de ignorância sobre os mecanismos e a substância do Tratado Constitucional estaremos (com certeza) em pior situação do que eles. Basta assistir aos depoimentos de rua. «A Europa» não nos causa qualquer tipo de emoção. E, em consequência disso, de opinião.
Fica a proposta: que, no dia do referendo, se jogue uma futebolada épica entre os ilustres adeptos do sim e do não. Isso mesmo: pode ser que, dessa forma, haja festança até às tantas no Marquês.
(publicado no dia 31 de Maio de 2005)