A vida por SMS
Segundo consta, Miguel e Nuno Gomes souberam que não foram convocados por Luiz Felipe Scolari para as próximas jogatanas da selecção nacional por SMS. Está, pois, encontrada uma novíssima forma de comunicação de decisões importantes (alguns dirão essenciais) para as nossas vidas.
É isso. Chegou-se a uma altura tão informal, tão informal que já dispensamos a reunião, o simples encontro no café do centro comercial ou o mero telefonema de trinta segundos (no meio do IC-19, a 120 km à hora). Não, hoje, manda-se um SMS para comunicar coisas sérias. Caso para citar novamente o magno pensamento de um Tony Vitorino: habituemo-nos.
Aliás, se pensarmos um pouco, se perdermos dois segundos para reflectir nestes problemas da humanidade, concluíremos que os jogadores Miguel e Nuno Gomes até tiveram muita sorte naquilo que se passou. «Ah pois!», diz-me aqui o Zé Rui, o rapaz da garagem. Podiam muito bem ter ficado a saber da não-convocatória através de um rodapé do programa Praça da Alegria. Ou da TV-Saúde. Ou podiam ter ficado a saber da sua situação futebolística na selecção quando fossem pesquisar o (escanzelado, calcula-se) saldo das suas contas bancárias no multibanco da esquina.
Desculpe mas tenho de avançar para as perguntas, dona Artemísia. O que se seguirá? Um tipo vir a saber que a mulher acaba de mudar de sexo numa clínica holandesa por SMS? A mulher saber que o marido acaba de estoirar o património familiar todo (incluindo os vestidos e as jóias que ela herdou da avó Laurinda; e o caniche também) no Casino do Estoril por SMS? O pai receber do filho o seguinte SMS: “Pai, hoje não vou jantar. Ah, e sou gay. Um abraço, Márcio”?
Esperemos para ver. Corrijo: aguardemos, serenos como o povo, pela próxima mensagem.
É isso. Chegou-se a uma altura tão informal, tão informal que já dispensamos a reunião, o simples encontro no café do centro comercial ou o mero telefonema de trinta segundos (no meio do IC-19, a 120 km à hora). Não, hoje, manda-se um SMS para comunicar coisas sérias. Caso para citar novamente o magno pensamento de um Tony Vitorino: habituemo-nos.
Aliás, se pensarmos um pouco, se perdermos dois segundos para reflectir nestes problemas da humanidade, concluíremos que os jogadores Miguel e Nuno Gomes até tiveram muita sorte naquilo que se passou. «Ah pois!», diz-me aqui o Zé Rui, o rapaz da garagem. Podiam muito bem ter ficado a saber da não-convocatória através de um rodapé do programa Praça da Alegria. Ou da TV-Saúde. Ou podiam ter ficado a saber da sua situação futebolística na selecção quando fossem pesquisar o (escanzelado, calcula-se) saldo das suas contas bancárias no multibanco da esquina.
Desculpe mas tenho de avançar para as perguntas, dona Artemísia. O que se seguirá? Um tipo vir a saber que a mulher acaba de mudar de sexo numa clínica holandesa por SMS? A mulher saber que o marido acaba de estoirar o património familiar todo (incluindo os vestidos e as jóias que ela herdou da avó Laurinda; e o caniche também) no Casino do Estoril por SMS? O pai receber do filho o seguinte SMS: “Pai, hoje não vou jantar. Ah, e sou gay. Um abraço, Márcio”?
Esperemos para ver. Corrijo: aguardemos, serenos como o povo, pela próxima mensagem.