Curso intensivo sobre a natureza humana
Começamos a perceber isso: o atentado em Londres foi, além do mais, um tratado sobre a natureza humana. As reportagens têm informado sobre alguns pormenores biográficos dos terroristas. Sim, atrás dos autores da matança havia vidas comuns. Estou a ser pouco rigoroso: pelo menos num dos casos, havia uma vida incomum – de generosidade e atenção aos outros, por exemplo.
Havia, há a história de um homem que, profissionalmente, ajudava outros homens com dificuldades de integração e aprendizagem. E que, numa manhã de Julho, não hesitou em estilhaçar o coração de uma série de homens que nunca vira antes. Provavelmente – as imagens de vídeo que antecedem o ataque sugerem essa possibilidade – com um rosto sereno, apaziguado. Feliz.
Ontem, numa sessão da meia-noite, assisti a outro tratado sobre essa coisa de ser pessoa. Colisão, do canadiano Paul Haggis, é um filme poderosíssimo pela maneira como revela as contradições do ser humano – para além de todos os desejos moralizadores. O que impressiona no filme não é a estratégia narrativa (feita de cruzamentos vários, à maneira - um bocadinho batida, convenhamos - de Magnolia), mas sim a complexa e surpreendente abordagem que faz de um tema tão facilmente capturável pelas redes do politicamente correcto: o racismo.
Em Colisão, há «maus» que são capazes de praticar o bem. E «bons» que são capazes dos actos mais hediondos. Há racismo entre imigrantes. Há racistas que são capazes de grandes gestos. E há anti-racistas que na primeira discussão no trânsito gritam palavras xenófobas. Pois, exactamente como na vida de todos os dias. Por mais que nos queiram, aqui e ali, vender o contrário. Na sociologia, na arte ou nos discursos de quem ainda insiste em dividir a humanidade em santos e monstros.
Havia, há a história de um homem que, profissionalmente, ajudava outros homens com dificuldades de integração e aprendizagem. E que, numa manhã de Julho, não hesitou em estilhaçar o coração de uma série de homens que nunca vira antes. Provavelmente – as imagens de vídeo que antecedem o ataque sugerem essa possibilidade – com um rosto sereno, apaziguado. Feliz.
Ontem, numa sessão da meia-noite, assisti a outro tratado sobre essa coisa de ser pessoa. Colisão, do canadiano Paul Haggis, é um filme poderosíssimo pela maneira como revela as contradições do ser humano – para além de todos os desejos moralizadores. O que impressiona no filme não é a estratégia narrativa (feita de cruzamentos vários, à maneira - um bocadinho batida, convenhamos - de Magnolia), mas sim a complexa e surpreendente abordagem que faz de um tema tão facilmente capturável pelas redes do politicamente correcto: o racismo.
Em Colisão, há «maus» que são capazes de praticar o bem. E «bons» que são capazes dos actos mais hediondos. Há racismo entre imigrantes. Há racistas que são capazes de grandes gestos. E há anti-racistas que na primeira discussão no trânsito gritam palavras xenófobas. Pois, exactamente como na vida de todos os dias. Por mais que nos queiram, aqui e ali, vender o contrário. Na sociologia, na arte ou nos discursos de quem ainda insiste em dividir a humanidade em santos e monstros.