O exemplo de António-Pedro
António-Pedro Vasconcelos, além de realizador (e religioso benfiquista, pois), é, sabemo-lo, um prosador. Um bom prosador, diga-se. Acompanho as suas crónicas desde há muito - e raramente saio desiludido dos parágrafos. Por causa do conteúdo, sim, mas sobretudo por causa da limpidez e secura do estilo. É raro escrever-se assim neste território de gente tão militantemente rebuscada.
Acabo de ler O Cinema e a Vida, o texto que escreveu sobre si próprio para a última página do JL. Não foram as abundantes referências literárias e cinematográficas que me salvaram o fim de tarde na esplanada. Foi uma frase lá mais para o fim - que procura condensar a relação que mantém com os objectos artísticos que o formaram e o seu percurso como realizador.
Esta: «Não fiz os filmes que queria porque escolhi um médium universal para me exprimir, e porque nasci - e escolhi viver - num país periférico, perdido no mapa da grande cultura popular que é o cinema, onde os filmes nem sequer falam aos seus contemporâneos. Mas tenho vivido como aprendi nos livros que li e nos filmes que amei (?)».
As perguntas que me surgiram depois de absorvida a prosa (e enquanto aguardava «a continha, se faz favor») foram: será que aqueles que na minha geração têm talento e ambições artísticas vão, daqui a uns anos, chegar a esta mesma conclusão - que a arte comandou as suas vidas, mas que não conseguiram alcançar os seus objectivos por habitarem um país periférico?
As respostas, essas, ainda vão demorar bastante tempo a chegar. Que, por agora, fiquem pelo menos os exemplos. Os exemplos como o de António-Pedro Vasconcelos, a recordar que a caminhada não vai ser, como é hábito dizer-se, pêra doce. Afinal de contas, este continua a ser o «país possível».
ncostasantos@netcabo.pt
Acabo de ler O Cinema e a Vida, o texto que escreveu sobre si próprio para a última página do JL. Não foram as abundantes referências literárias e cinematográficas que me salvaram o fim de tarde na esplanada. Foi uma frase lá mais para o fim - que procura condensar a relação que mantém com os objectos artísticos que o formaram e o seu percurso como realizador.
Esta: «Não fiz os filmes que queria porque escolhi um médium universal para me exprimir, e porque nasci - e escolhi viver - num país periférico, perdido no mapa da grande cultura popular que é o cinema, onde os filmes nem sequer falam aos seus contemporâneos. Mas tenho vivido como aprendi nos livros que li e nos filmes que amei (?)».
As perguntas que me surgiram depois de absorvida a prosa (e enquanto aguardava «a continha, se faz favor») foram: será que aqueles que na minha geração têm talento e ambições artísticas vão, daqui a uns anos, chegar a esta mesma conclusão - que a arte comandou as suas vidas, mas que não conseguiram alcançar os seus objectivos por habitarem um país periférico?
As respostas, essas, ainda vão demorar bastante tempo a chegar. Que, por agora, fiquem pelo menos os exemplos. Os exemplos como o de António-Pedro Vasconcelos, a recordar que a caminhada não vai ser, como é hábito dizer-se, pêra doce. Afinal de contas, este continua a ser o «país possível».
ncostasantos@netcabo.pt